
Retrospectiva: o que minhas pacientes me ensinaram sobre coragem em 2024
A pergunta chegou despretensiosa, enquanto tomávamos café numa dessas manhãs em que o dia parece ainda se espreguiçar. “Amor, o que você ouviu no consultório, esse ano, que mais te marcou?” Estava distraído, mexendo na xícara, e só consegui responder: “Não sei, preciso pensar, Lizza”. Mas a pergunta ficou. Acompanhei cada gole de café com lembranças embaralhadas, e, no caminho do hospital, ela se tornou um mantra. O que foi que ouvi? O que me marcou? Entre semáforos e ruas conhecidas, uma memória começou a ganhar forma.
Lembrei de uma paciente jovem. Cheia de vida, mas já carregava o peso invisível das expectativas alheias. Queria colocar próteses nos seios. Não porque não gostasse de como eles eram, mas porque acreditava que isso mudaria os olhares que recebia, principalmente dos homens. “Doutor, você não tem ideia da pressão que nós, mulheres, sofremos”, disse ela, com um sorriso tímido que escondia a gravidade de suas palavras. E eu me perguntei: “Como chegamos aqui? Quando foi que a beleza deixou de ser arte e virou fardo?”.
Mais alguns quarteirões, e outra história veio à mente. Dessa vez, era a paciente que tinha sido mãe recentemente. Exausta, mas determinada, ela queria “voltar ao corpo de antes”. Disse que era cedo, que seu corpo, assim como ela, precisava de tempo para se reencontrar. Mas ela me respondeu com lágrimas nos olhos: “Não sei se meu casamento dura até lá”.
Essa resposta me desarmou. Não era sobre o corpo, afinal. Era sobre a relação. Sobre como o corpo, que em vez de ser dela, parecia ter se tornado uma moeda de troca em um contrato tácito com o mundo.
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